Roberto Vermulm
Amigo | Depoimento enviado por e-mail
Fabio, um Professor
Eu tenho muitas saudades do Fabio. Antes de mais nada porque era um amigo que nunca poupou tempo para bater papo e conversar sobre a vida. Tenho saudades também daquele grande economista que, na realidade, era muito mais do que um economista, era um intelectual com conhecimento amplo para além do mundo da ciência; tinha uma cultura admirável que facilmente tornava as conversas técnicas e suas aulas em grandes espetáculos.
Ao mesmo tempo em que detinha grande conhecimento teórico, possuía um pragmatismo que tornava mais fácil o enfrentamento de grandes questões técnicas. Relato aqui alguns eventos desse tipo.
Estávamos realizando um trabalho que tratava do setor petroquímico e eu ficava admirado com a sua desenvoltura com um setor industrial que era uma novidade para um economista industrial que tradicionalmente havia publicado vários trabalhos sobre as indústrias mecânica, de bens de capital e eletrônica. Um dia eu fiz pra ele um comentário singelo: “Fabio, como você consegue tratar, com tamanha competência, setores industriais com significativas diferenças entre si?” Ele me respondeu: “Roberto, eu tenho um modelo analítico na cabeça e com um pouco de tempo leio e aprendo as especificidades relevantes do setor”. Esta foi uma resposta absolutamente clara da utilidade dos modelos teóricos, da teoria que se justifica enquanto racionalização da realidade.
Nessa mesma linha, eu dizia para ele que na minha tese de doutorado não gostaria de fazer uma parte teórica, que geralmente fica desconectada do resto da tese, somente para demonstrar aos meus pares uma erudição tradicional. Ele então em sugeriu inverter a forma de estruturar o trabalho. Ao invés de fazer uma ampla revisão da literatura para encontrar e justificar alguma questão que eu considerava relevante porque não buscar a teoria para interpretar um problema concreto que eu já havia identificado? Eu tinha uma questão e então o que eu deveria fazer seria me apoiar na teoria econômica para entender e enfrentar o meu problema objetivamente.
Por fim, lembro de um terceiro momento em que estávamos realizando uma pesquisa em conjunto e em determinado momento, diante de uma questão específica, ele dizia que o caso era clássico, era um claro exemplo de centralização do capital. Para mim essa explicação era insuficiente. Ao mesmo tempo em que o Fabio não perdeu a oportunidade de literalmente ficar várias horas gozando de mim, pela minha insistência em discutir mais o assunto, ele se dispôs a trabalhar conjuntamente por oito horas seguidas buscando racionalidade não estritamente econômica para a questão tratada. Finalmente, já à noite, depois de um dia intenso de trabalho, chegamos a uma explicação que a questão tinha muito mais uma determinação política do que um caso clássico de centralização do capital.
Essa disposição do Fabio em enfrentar problemas analíticos era uma marca muito forte no seu trabalho. Apesar da sua senioridade acadêmica, ele não deixava de enfrentar uma questão que tinha razoabilidade, mesmo quando esta questão estava sendo lançada por um aprendiz.
A convivência com o Fabio me ensinou muita coisa. Ele era um verdadeiro professor. Era um grande intelectual. Mas muito mais do que tudo isso, ele era meu amigo. Saudades!
Renato Erber
O paizão sempre foi muito presente. Eu lembro dele, com uns cinco, seis anos, jogando botão comigo, no chão. Meu pai era assim. Quando a gente era criança, eu tinha uns dez, onze anos, eu estava começando a pegar onda, ele era o único pai que enchia a belina com a molecada e levava pra Prainha,...