Irene Tourinho
Amiga de Fabio e Ana | 15.2.2019 | Ipanema, Rio de Janeiro
Ao longo dos tempos, Fabio e Ana Erber se tornaram referência e inspiração para muitas coisas. O Fabio era supercrítico, bem informado e muito inteligente. Sabia de história, das artes, acompanhava a vida política e econômica do país. Nossas afinidades foram crescendo e se aprofundando. Ele tinha uma ousadia estética no olhar muito marcante. Incentivava artistas jovens e contemporâneos. A ironia era uma característica dele, usada não só para os outros, pois ele também ria de si mesmo. Esta é uma característica que pertence às pessoas de alma e de coração grande, de cabeça muito aberta.
Outra afinidade que tínhamos era a curiosidade por lugares e pessoas. Fomos assistir a peças de teatro diferentes, experimentais, e fizemos algumas viagens juntos. Uma vez fomos ao ateliê de um artista que hoje tem obras em várias coleções particulares e no MAM de São Paulo e do Rio. Eu me lembro de o Fabio ficar muito tempo observando. Uma das coisas que aprendi com ele foi me dar um tempo para observar aquilo que eu via e me dar a possibilidade de ouvir as pessoas que produziam. Para mim, que trabalhava com educação e arte, era importante esse vínculo entre o que eu via e o que eu ouvia das pessoas que produziam arte, para daí fazer uma ponte para ensinar arte – se é que se ensina.
Um dia recebemos um convite para ir jantar na casa do Fabio e da Ana. Fabio Erber era então chefe do meu marido à época, ou seja, ocupava uma posição acima da dele. Estávamos chegando em Brasília. Me enchi de uma certa cerimônia, até me preocupei, vesti uma roupa de linho… Quando entramos na casa deles, Fabio e Ana estavam completamente despojados. Nós ficamos tão à vontade que terminamos a noite às quatro horas da manhã, na cozinha tomando café. Foi a primeira de uma série de noites com que a vida nos privilegiou. Não dá para desfiar daí nenhum fio onde a reserva e a cerimônia tomem conta. A base e o solo de toda a nossa história foram a amizade e a sinceridade, sempre muito grandes, que se aprofundaram, se alargaram e foram sendo redescobertas. No nosso relacionamento não havia censura – algo que eu não pudesse dizer, ver ou ouvir, ou uma brincadeira que eu não pudesse fazer. Imagine o prazer que é conviver com uma pessoa bem informada, que tem um senso de humor constante e não tem restrições, a priori, a nada – nem em termos de comportamento, nem em termos de produção visual ou musical. Você está em um campo aberto, livre para experimentar as coisas. A partir de Ana e Fabio, construiu-se um outro olhar sobre a cidade (Brasília). Éramos os quatro forasteiros, mas estávamos os quatro bem-intencionados. Tínhamos afinidades de princípios e de valores, e também no modo de ver as pessoas, de tratar as pessoas. Isso nos uniu. Criou-se um vínculo e um vinco, porque fica essa dobra da vida, e depois dela muita coisa pode acontecer, mas ela marca.
Helena Lastres
Conheci o Fabio no final dos anos 1970, na defesa de dissertação de mestrado de um colega. Morri de medo daquele homem que fez críticas tão mordazes na defesa de tese desse meu colega. Foi alguma coisa assim, para mim, assustadora. Eu nunca tinha participado de uma defesa com críticas tão arrasadoras...