Victor Prochnik
Ex-aluno e colega do IE | 25.2.2019 | Instituto de Economia da UFRJ, Rio de Janeiro
Meu nome é Victor Prochnik e atualmente sou professor do Instituto de Economia. Entrei para cá em 1979, quando o Fabio Eber era professor. Ele foi um dos fundadores do Instituto de Economia, e ele foi meu professor na cadeira Economia da Tecnologia, ele era o titular da cadeira. Acho que o Fabio tinha voltado havia pouco tempo de um Doutorado na Inglaterra. O Fabio Erber fez uma tese em economia da tecnologia, bem em cima do que ele lecionava. Nós víamos no Fabio Erber uma pessoa extremamente inteligente. A inteligência do Fabio Erber era uma coisa que perpassava as ideias, os temas e as discussões. Ele era muito formal, tinha um jeito “muito inglês”. Ele até foi perdendo essa característica de inglês, mas muito pouco. No início era bastante, bastante inglês. Ele era muito formal, mas, ao mesmo tempo ele era muito atencioso, muito cuidadoso com as pessoas, com os alunos. Ele tinha interesse, os textos eram muito recentes, muito bons, e ele gostava dali, frequentava, estava sempre aqui no Instituto. Fabio Erber orientou muitas pessoas, ficou famoso aqui dentro, foi reconhecido. Depois desse primeiro passo como meu professor, eu o reencontrei em 1984, cinco anos depois, na pesquisa dos complexos industriais. Havia três professores sênior: Fabio Erber, Zé Tavares e Eduardo Augusto, além da Lia Haguenauer, que veio do IBGE. O Fabio Erber desenvolveu uma visão original sobre os complexos industriais, diferente da do Eduardo Augusto e da do José Tavares. A visão do Fabio Erber é a de que os complexos industriais são a projeção, na teia produtiva das relações intersetoriais, do desenvolvimento de um paradigma tecnológico. Ele pegou esse conceito, que é um conceito do Dozzi desenvolvido no centro onde ele fez o doutorado, em Sussex, e procurou mostrar o seguinte: que o desenvolvimento do paradigma tecnológico levava ao desenvolvimento dos fluxos tecnológicos entre os setores. As tecnologias iam gerando fluxos tecnológicos entre os setores, e estes fluxos tecnológicos, depois, se transformavam em fluxos de compra e venda. Então os complexos industriais são clusters, ou seja, são conjuntos de setores interligados por relações de compra e venda muito fortes entre si, e estes setores, ligados por relações mais fracas por outros setores, que se desenvolvem a partir de inovações; por sua vez essas inovações vão influenciado os setores da frente e os de trás. E esses fluxos tecnológicos vão, então, se solidificando em relações de compra e venda com os produtos que advêm dessas inovações de produto e processo. Tem um texto dele que explica direitinho isso. Naquela época, o Fabio Erber (e o José Tavares como co-autor) escreveram um texto interessante chamado O princípio da Latitude, que se aplicaria, até, no Brasil de hoje. Basicamente ele vai dizer o seguinte: que certas indústrias, ao serem mais complexas, como por exemplo a indústria química, têm normas de trabalho mais estritas, exigem que a dosagem dos insumos tenha uma variação menor; exigem que as temperaturas sejam mais bem controladas, então tudo tem que funcionar com maior precisão, e que essa demanda por precisão acaba gerando uma capacidade técnica de desenvolvimento, o que acaba se aplicando a outras indústrias também. O princípio da latitude está ligado a isso: à constituição dessas indústrias mais intensivas em complexidade e em limites estreitos ao trabalho, limites estreitos operacionais, de controle da qualidade, o que seria uma alavanca. Ele procurou mostrar como essas indústrias são alavancas dos sistemas econômico e tecnológico. No início dos anos 1990, logo no comecinho, eu convidei o Fabio Erber para ser o orientador da minha tese de doutorado. A gente se aproximou muito, e foi muito gostoso mesmo. Eu me lembro de três características importantes do trabalho do Fabio Erber. O primeiro é que ele me dava muita liberdade, incentivando que eu fosse pra lá, eu fosse pra cá, pesquisar em diferentes sentidos. Ele nunca procurou me influenciar em coisa nenhuma. Segundo, que as ideias que ele dava eram sempre muito construtivas, me ajudavam bastante, inclusive as de simplificar. Ele era uma pessoa bastante acadêmica, com uma inteligência gigantesca e uma cultura enorme, mas ele tinha um sentido prático também, é engraçado como ele juntava isso. E ele era uma pessoa de muito critério. Um dia, depois de ele ter lido o capítulo teórico que eu desenvolvi, disse: “Agora você tem uma tese de doutorado”. A gente terminou a tese de doutorado em 1996, eu defendi essa tese. Passou mais um período, eu fui fazer outros trabalhos, ele também. No início de 1999, começamos a trabalhar de novo juntos. Ele me chamou, a gente fez um trabalho grande de consultoria, um trabalho muito bem pago. Ali mudou a minha relação com ele. Eu senti que eu era aluno e ele passou a ser parceiro. A gente compartilhava tudo, embora ele fosse mais sênior e o cliente fosse dele. Ganhamos bom dinheirinho, fui para a Europa, levei a minha filha, fomos passear.
Depois desse trabalho, a gente teve uma relação mais de amizade. Ficou mais forte. A gente conversava muito, Fabio Erber gostava muito dos três filhos, mas comigo ele conversava mais sobre o Renato. O Renato é surfista e eu, há muitas e muitas décadas atrás, peguei umas ondinhas também. Então eu gosto muito do esporte e me lembro dele muito preocupado porque o Renato estava em Bali, o Renato estava lá no Havaí, as ondas grandes… E o Fabio Erber preocupado. Eu o despreocupava um pouco. Mas o Renato tirou esse lado um pouco sério, embora fosse um surfista viajante, ele tinha esse lado sério de se cuidar bem, o Renato sempre se cuidou bem lá, vinha, voltava e contava histórias incríveis. E é interessante que o Renato é diferente do Fabio, é uma personalidade completamente diferente, com outro tipo de atividade, outro tipo de profissão, mas hora nenhuma isso atrapalhava o relacionamento deles. Eu via o Fabio Erber incentivando o filho a fazer as coisas que ele queria fazer, igualzinho incentivou a mim na academia, ele incentivava as pessoas, ele era uma pessoa com um coração gigantesco.
Sonia Murtinho
Sou irmã da Ana, portanto cunhada do Fabio. O Fabio foi um grande membro da família. Ele abraçou a família, assim, a todos. Foi muito generoso, muito presente. Era uma figura assim, com uma ironia... Ele observava tudo. E ele e o meu ex-marido de vez em quando se juntavam, os dois eram muito irônicos...