Pietro Erber

Irmão | Depoimento enviado por e-mail

O Fabio foi, sem sombra de dúvida, a pessoa com quem eu tinha mais capacidade de troca, de opiniões, de ideias, enfim, de tudo aquilo que dizia respeito às questões políticas, profissionais, e também afetivas. Ele era um grande frequentador de cinema, possivelmente possa ser classificado nessa Geração Paissandu, e a grande paixão dele, mais do que o cinema, foi o teatro.

Eu acompanhei muito de perto um verdadeiro drama pessoal que ele passou no sentido de se pelo teatro ou se optava pela economia. Porque ele já estava na faculdade de Economia optava e ao mesmo tempo tinha suas aulas de teatro com o Giani Ratto. Chegou a montar algumas peças, fazia um pouco de tudo, sobretudo direção, mas também atuava.

Até que ele fez uma opção clara pela Economia, onde ele teve um grande sucesso. O meu irmão foi, certamente, uma pessoa extremamente importante pra mim, e a falta dele é realmente cada vez mais sentida.

 

CARTA PARA O ANIVERSARIO EM 2020.

Fabio, 76 anos

Às vezes, por um lampejo, penso: quero contar isso ao Fabio. Em seguida, é como se ficasse sem chão. Mas a lembrança permanece, de tantas coisas, tantas situações. O que a gente se lembra está presente. Ontem vi uma aula dele sobre liberalismo e o conceito de convenções de desenvolvimento. Parecia ontem e ele visivelmente se divertia com aquela fala, aquele exercício mental pontuado de citações oportunas, talvez chocantes.

Há 76 anos me levaram ao Hospital Santa Teresa, em Petrópolis, “para conhecer seu irmão”.  “Gostou ?” Não, é muito vermelho, parece um índio” Está nos anais familiares……

Irmão mais novo, recém-nascido, é mais um estorvo do que uma curiosidade para quem teve, até então, cinco anos de exclusividade. Mas aos poucos a gente se ajeita e aprendemos – ou aprendi, com gratificação e alguns conflitos, que nenhum era santo, a dividir mãe, pai, avôs, quarto e alguns brinquedos. Aí havia o meu e o seu. Compartilhamos o gosto por mitologia, história e música. Mais tarde, também dividimos uma garçonière, sob o olhar irônico de dona Lívia e aprobatório de doutor Roberto. E depois que estes faleceram, conseguimos dividir todos os objetos (que é onde moram os afetos e lembranças de cada um, o resto se reparte facilmente) sem menor problema. Quando acabamos de dividir as jóias, bridamos com um licor de jabuticaba que minha avó tinha feito mais de trinta anos antes. Estava muito bom.

Em política, Fabio era mais radical, talvez por ter passado pela universidade num período de maior efervescência depois dos 50 anos em 5, varridos pela vassoura do Jânio. Creio que se formou no ano do golpe. O importante é que eventuais diferenças nunca atrapalharam o bom convívio.  Antes, me foram benéficas, pois tinham origem respeitada.

Quando estava no BNDES às vezas almoçávamos na Colombo e quando estava na faculdade almoçávamos lá perto. Boas conversas. Deveríamos ter almoçado e nos visto mais vezes….

Parabéns, Fabio !